SERMÃO DE DOMINGO – TENHA MEDO DO JUÍZO FINAL – São Cirilo de Jerusalém

SERMÃO DE DOMINGO – TENHA MEDO DO JUÍZO FINAL – São Cirilo de Jerusalém

Diz a Escritura: «Quando o Filho do Homem vier em sua glória, acompanhado de todos os seus anjos» (Mt 25,31). Percebe, ó homem, como entrarás em juízo diante de uma imensa multidão de testemunhas. Todo o gênero humano estará presente. Pensa, por exemplo, no quão numerosa é a nação romana. Pensa também na multidão dos povos bárbaros e na que havia há cem anos. Calcula quantos já morreram desde mil anos atrás. Eu penso, interiormente, em todos os que existiram desde Adão até hoje. É uma multidão imensa; no entanto, ainda pequena em comparação com os anjos. Estes são aquelas noventa e nove ovelhas (Lc 15,4), unidas ao restante do gênero humano.

Com efeito, o número de habitantes deve ser medido pelas dimensões dos diferentes lugares. Toda a Terra não passa de um ponto no meio do céu, e o céu que a circunda contém uma multidão de habitantes de acordo com sua vastidão. E os céus dos céus abarcam um número ainda maior, que ultrapassa qualquer cálculo. Está escrito: «Milhares e milhares o serviam; miríades e miríades estavam diante dele» (Dn 7,10; cf. Ap 5,11). E não porque a multidão esteja limitada a esse número, mas porque o profeta não foi capaz de expressar uma quantidade maior.

Naquele momento, estará presente Deus, Pai de todos, e com Ele estará assentado Jesus Cristo, e igualmente o Espírito Santo. Todos nós seremos convocados pelo toque da trombeta angélica, com tudo o que tivermos feito. Diante disso, não convém que vivamos desde já com zelo e temor? E não penses, ó homem, que — mesmo sem considerar o suplício — é pequeno castigo ser condenado diante de tantos testemunhos. Acaso não preferiríamos morrer mil vezes antes de sermos condenados diante dos amigos?

Temamos, pois, irmãos, para que não sejamos condenados por Deus, que não precisa de investigações nem de listas de acusações para julgar. Não digas: "Era noite quando me entreguei à devassidão, ou quando pratiquei feitiçaria, ou quando cometi tal ou tal pecado, e não havia ali nenhum homem para ver." Por tua consciência serás julgado, entre “juízos contrários de condenação ou de louvor... no dia em que Deus julgar os segredos dos homens” (Rm 2,15-16). O terrível rosto do Juiz te forçará a dizer a verdade, ou melhor, Ele mesmo te declarará culpado, ainda que tentes ocultá-la; pois serás ressuscitado cercado de teus pecados ou de tuas obras justas.

E quem fará essa declaração será o próprio Juiz — Cristo é quem julga: «Pois o Pai não julga ninguém, mas confiou todo julgamento ao Filho» (Jo 5,22). Não porque o Pai se prive de um poder, mas porque julga por meio do Filho. Com efeito, o Filho julga conforme a vontade do Pai, pois não há entre eles desejo diverso: o querer do Pai e do Filho é um só.

E o que diz o Juiz sobre a presença de tuas obras? «Serão reunidas diante dele todas as nações» (Mt 25,32). Porque é justo que, diante de Cristo, «todo joelho se dobre, nos céus, na terra e nos infernos» (Fl 2,10; cf. Rm 14,11). «Ele separará uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos» (Mt 25,32).

E como o pastor faz essa separação? Por acaso consulta um livro para saber quem é ovelha e quem é cabrito? Ou não julga, antes, pelo que vê? Não é a lã que indica quem é ovelha e a pele áspera que revela o cabrito? Assim também tu: se fores purificado de teus pecados, tuas ações se tornarão como lã pura (cf. Is 1,18); tua veste permanecerá sem mancha, e tu dirás continuamente: «Já tirei minha túnica, como tornarei a vesti-la?» (Ct 5,3). Pela tua veste serás reconhecido como ovelha.

Mas se fores encontrado peludo, como Esaú — que, com sua pele áspera e seu pensamento perverso, por um alimento perdeu o direito de primogenitura e vendeu sua herança (Gn 25,29-34; cf. Hb 12,16) — serás colocado à esquerda (cf. Mt 25,33). Longe esteja, porém, de qualquer um de nós, apartar-se da graça e ser colocado, por suas más obras, à esquerda com os pecadores.

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Pároco Leigo