Não se deixar enganar – Cristo, o Filho unigênito de Deus, já não virá da terra. Se alguém disser que Ele apareceu no deserto, não saias (cf. Mt 24,26). E se disserem: "Vede, o Cristo está aqui ou ali", não acredites (cf. Mt 24,23).
Não olhes então para a terra nem para as profundezas, pois o Senhor descerá dos céus (cf. At 1,11), e não virá sozinho, como da primeira vez, mas com uma grande comitiva, cercado por uma multidão de anjos incontáveis (cf. Jd 14). Tampouco será de maneira imperceptível, como o orvalho sobre a relva (Sl 72,6), mas resplandecente como um relâmpago. Pois Ele mesmo disse: "Como o relâmpago sai do oriente e brilha até o ocidente, assim será a vinda do Filho do Homem" (Mt 24,27). E ainda: "Verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu com grande poder e glória. Ele enviará os seus anjos com som de trombeta" (Mt 24,30-31), etc.
O Anticristo, produto do diabo – Mas antes, quando se previa que o Verbo se encarnaria e quando se esperava que Deus nascesse da Virgem, o diabo já havia distorcido a realidade, falsificando-a e semeando astutamente, entre os adoradores de ídolos e falsos deuses, fábulas sobre paternidades e nascimentos. Dessa forma, se a falsidade ganhasse espaço, a razão, segundo o diabo pensava, não encontraria a fé.
Pois bem, quando o verdadeiro Cristo vier pela segunda vez, o inimigo, aproveitando-se da expectativa dos simples, sobretudo dos circuncisos, fará surgir um grande homem, muito experiente nas artes perversas da feitiçaria e dos encantamentos, que usurpará a autoridade do Império Romano e se autodenominará falsamente Cristo. Assim enganará, com esse nome de Cristo, os judeus que esperam o Ungido (ou seja, o Messias, o Cristo). Também arrastará os gentios com seus prodígios mágicos e enganos.
A chegada do Anticristo – O Anticristo mencionado virá quando os dias do Império Romano estiverem completos e o fim do mundo estiver próximo. Dez reis romanos se levantarão ao mesmo tempo, talvez em regiões diferentes, mas todos reinando simultaneamente. Depois deles, surgirá o décimo primeiro, o Anticristo (Ap 17,12; cf. Dn 7,24ss), que usurpará o poder romano com o apoio das artes mágicas.
Humilhará três dos que reinaram antes dele (cf. Dn 7,24), e manterá os sete restantes sob seu domínio. A princípio simulará, como se fosse instruído e prudente, clemência, moderação e humanidade, mas enganará os judeus com sinais e prodígios falsos oriundos de mágicas, como se ele fosse o Cristo esperado. Depois, será caracterizado pela crueldade e pelo crime, de modo a superar em maldade todos os injustos e ímpios que o precederam. Voltará seu ânimo sanguinário, inflexível, cruel e inconstante contra todos, mas especialmente contra nós, cristãos. Porém, após três anos e três meses em que terá realizado seus planos, será tirado do meio pelo retorno glorioso, desde os céus, do Filho unigênito de Deus, nosso Senhor e Salvador Jesus, o verdadeiro Cristo, que, com o sopro de sua boca, fará perecer o Anticristo e o entregará ao fogo eterno.
Mas isso ensinamos, não por invenção, mas a partir das Escrituras que a Igreja lê, e sobretudo com base na profecia de Daniel que lemos antes, tal como foi interpretada pelo arcanjo Gabriel com estas palavras: "A quarta besta será um quarto reino que haverá na terra, diferente de todos os reinos".
Os autores eclesiásticos nos transmitiram que se trata do Império Romano. Pois o primeiro dos reinos ilustres foi o dos assírios; o seguinte, o dos medos e persas; o terceiro, depois destes, o dos macedônios; o quarto é o atual dos romanos. A seguir, Gabriel interpreta: "E os dez chifres: deste reino sairão dez reis, e sairá depois deles outro que superará a todos os anteriores em maldade" (Dn 7,24 LXX). Não se refere apenas àqueles dez, mas a todos os que o precederam. "E derrubará três reis" (ibid.): daqueles dez anteriores, como é evidente. Mas se ele derruba três desses dez, ele reinará como o oitavo. E diz: "Proferirá palavras contra o Altíssimo" (Dn 7,25): será um homem blasfemo, que não obedecerá às leis e que não terá herdado o reino de seus pais, mas se apoderará do poder por meio das artes mágicas.
Usará Satanás como instrumento de mentira – Mas quem é este ou quem realiza suas obras? Sê nosso intérprete, Paulo. Sua vinda, afirma ele, "estará marcada pela atuação de Satanás, com toda sorte de milagres, sinais e prodígios enganosos" (2Ts 2,9). Com isso, refere-se ao fato de que usará Satanás como instrumento, que atuará pessoalmente. Pois, sabendo que o juízo está próximo, Satanás já não lutará por meio de seus ministros, como fazia antes, mas mais abertamente, por si mesmo: "com todos os sinais e prodígios enganosos". Pois aquele que é o "pai da mentira" (Jo 8,44) fará exibição de obras mentirosas mediante aparências fingidas, de forma que as multidões acreditarão ver um morto ressuscitado, sem que seja verdade, ou paralíticos andando e cegos enxergando, quando, na realidade, nenhuma dessas curas ocorrerá.
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