No mistério insondável da Encarnação, o Verbo de Deus assumiu um coração humano para nos redimir. Esse Coração, transpassado na Cruz, tornou-se a fonte da qual brotam a misericórdia e a graça que lavam os pecados do mundo. A devoção ao Sagrado Coração de Jesus, tão cara à Tradição da Igreja, não é apenas um convite à contemplação desse amor infinito, mas também uma chamada urgente à reparação. Diante das ofensas que continuam a ferir o Salvador, os fiéis são convocados a oferecer penitências e atos de amor, unindo-se ao sacrifício redentor de Cristo para a salvação das almas.
O Amor Redentor do Sagrado Coração
“De tal modo Deus amou o mundo que lhe deu seu Filho Unigênito” (Jo 3,16). O Evangelho de São João nos revela a profundidade desse amor, que culmina no Calvário, onde o Coração de Cristo, aberto pela lança, derrama sangue e água — símbolos dos sacramentos que sustentam a Igreja. São João Crisóstomo, ao meditar sobre essa cena, exclamava: “Ó Coração de meu Salvador, fornalha ardente de caridade!”. Esse amor não é apenas um evento histórico; ele permanece vivo e ativo, pulsando no Santíssimo Sacramento, onde Jesus continua a oferecer-se ao Pai por nós.
A revelação do Sagrado Coração a Santa Margarida Maria Alacoque, no século XVII, trouxe ao mundo uma mensagem clara: o amor de Cristo é tão grande que clama por ser correspondido. Ele mostrou-lhe seu Coração envolto em chamas, coroado de espinhos e ferido pela ingratidão humana, dizendo: “Eis o Coração que tanto amou os homens e que nada poupou por eles, mas que, em troca, recebe apenas desprezo e ultrajes”. Essas palavras ecoam como um apelo à Igreja de todos os tempos: não podemos permanecer indiferentes diante de tal amor.
A Necessidade da Reparação
O pecado, desde a queda de Adão, é uma afronta à santidade divina. Cada transgressão pessoal renova as feridas do Coração de Cristo, pois, como ensina São Paulo, “os que são de Cristo crucificaram a carne com suas paixões e concupiscências” (Gl 5,24). Contudo, o mundo moderno, em sua rebelião contra Deus, multiplica essas ofensas: a profanação dos sacramentos, o desprezo pela lei natural, a indiferença à verdade eterna. Diante disso, o Sagrado Coração não se fecha em justiça, mas se oferece em misericórdia, convidando-nos a participar de sua obra redentora.
A reparação, segundo a Tradição, é um ato de justiça e amor. São Tomás de Aquino ensina que a penitência não apenas restaura a ordem violada pelo pecado, mas também une o penitente ao sacrifício de Cristo. Quando oferecemos jejuns, orações ou mortificações em reparação, tornamo-nos, nas palavras de São Paulo, “cooperadores de Deus” (1Cor 3,9). Assim, o fiel que reza diante do Santíssimo ou que cumpre as devoções das Primeiras Sextas-Feiras não apenas consola o Coração de Jesus, mas também intercede pelas almas que correm o risco da condenação eterna.
O Chamado à Penitência
A Igreja, fiel à mensagem do Evangelho, sempre ensinou que a penitência é um caminho de conversão. Nosso Senhor mesmo declarou: “Se não fizerdes penitência, todos perecereis do mesmo modo” (Lc 13,3). A devoção ao Sagrado Coração eleva esse chamado a um nível mais profundo, pois nos pede que nossas penitências sejam oferecidas não apenas por nossos próprios pecados, mas também pelos dos outros. Santa Teresa de Lisieux, a “pequena flor” do Carmelo, compreendeu isso ao oferecer seus sofrimentos em união com o Coração de Cristo, dizendo: “Quero amar-Te e fazer-Te amado”.
Que formas concretas pode tomar essa reparação? A Tradição nos oferece um rico tesouro: a participação nas Celebrações das primeiras nove sextas-feiras, a recitação do Rosário com fervor, o jejum em espírito de humildade, a prática da Adoração à Sagrada Face com coração contrito, a Via Sacra. Cada ato, por menor que seja, quando unido à Cruz, tem valor infinito diante de Deus. O Papa Pio XI, na encíclica Miserentissimus Redemptor (1928), exortou os fiéis a essa missão: “Por meio da reparação, consolamos o Coração de nosso Salvador e atraímos bênçãos sobre a humanidade”.
Nestes tempos de apostasia e confusão espiritual, nos quais o Sagrado Coração é mais uma vez ultrajado pela tibieza dos fiéis e pela audácia dos ímpios. Contudo, é precisamente em meio às trevas que a luz da misericórdia brilha com maior intensidade. A festa do Sagrado Coração, celebrada na sexta-feira após o Corpus Christi, e a consagração pessoal e familiar a esse Coração, promovida por São João Eudes e outros santos, são faróis que nos guiam de volta ao amor redentor de Cristo.
Ó fiéis, ouçamos o que diz o Salvador: “Vem a mim, todos vós que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei” (Mt 11,28).
Aproximemo-nos do Seu Coração com confiança, oferecendo nossas penitências como incenso que sobe ao céu. Que nossas vidas sejam um hino de reparação, consolando o Coração trespassado e atraindo as almas ao Seu amor eterno. Assim, ao fim desta peregrinação terrena, possamos ouvir as palavras de nosso Redentor: “Vem, servo bom e fiel, entra no gozo do teu Senhor” (Mt 25,21).
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