Monsenhor André Jean Marie Hamon - (1795-1874)
Todos os santos são unânimes em dizer-nos que a oração é essencial à salvação; que um dia sem oração é um dia perdido; que sem a oração a fé diminui com o gosto e sentimento das verdades cristãs e dos nossos divinos mistérios.
Quem não medita em Deus e nas Suas perfeições infinitas, não tem para com Ele senão frieza e indiferença; quem não reflete sobre os seus deveres, não sente já a sua importância, despreza-os, ou cumpre-os mal.
Sem a oração, não há petição bem feita: É impossível, dizia Santa Tereza, recitar até o Pai Nosso como convém; o hábito, a distração, reduzem a oração a um simples movimento dos lábios em que o coração não toma parte.
- O meu coração se secou, diz Davi, porque eu me esqueci de comer o meu pão.
Sem a oração, não há recolhimento de espírito, amor, nenhuma virtude, diz São Boaventura.
Finalmente, semelhante ao soldado exposto sem armas a todos os ataques do inimigo, estamos sem defesa contra o nosso próprio coração. Ao contrário, com a oração, a fé torna-se de dia para dia mais viva, gostamos mais de Deus e das coisas de Deus, avaliamos o nada do mundo e a grandeza dos bens eternos; vemos os nossos pecados e defeitos com os remédios que lhes devem ser aplicados; o fogo das paixões extingue-se e dá lugar ao santo amor.
É na meditação que o fogo sagrado se acende; finalmente, a vida toda muda-se e renova-se. Antes éramos levianos, pouco refletidos, covardes e sem energia, irascíveis, apegados a nós mesmos e ao nosso próprio senso; pela oração, tornamo-nos sisudos, meditativos, animosos, humildes e sem afetação; o que inspirou a Santo Agostinho esta bela palavra:
- Saber orar bem, é saber viver bem.
Mas como rezar bem?
Há três pontos principais à se considerar: o hábito da meditação, o desapego, a repressão das paixões.
1.° O hábito da meditação. O espírito habitualmente distraído é essencialmente inábil para a oração; acostumado a não se fixar em coisa alguma, a saltar incessantemente de objetos para objetos, segue na oração o seu rumo habitual. Em vão lhe falaria Deus, ele não O ouve; ou se O ouve, não faz caso, e dirige os seus pensamentos para outra coisa. Não é senão no silêncio da alma contemplativa que Deus fala, que ouvimos a Sua voz, que a meditamos, que a saboreamos e tiramos proveito dela.
2.° O desapego. O coração apaixonado arrasta o espírito, cativa-o e tiraniza-o. Quereríamos pensar em Deus e na nossa salvação, mas as paixões absorvem o pensamento. Já não podemos cuidar senão daquilo a que temos apego: é uma nuvem que impede de ver a luz de Deus; é um ruído que impede de ouvir a Sua voz. Quereríamos elevar-nos ao céu, mas a alma está apegada à terra; por mais que se agite e se inquiete, é-lhe impossível tomar o seu voo. Ao contrário, a alma desapaixonada, livre de todo o laço, eleva-se facilmente a Deus, conversa com Ele, e conserva-se-lhe unida.
3.° A repressão das paixões. Enquanto o coração estiver possuído de alguma paixão, a que não quer renunciar, estará inquieto, perturbado, incapaz de se fixar em Deus. Acontecerá com ele o mesmo que com o enfermo atormentado pela febre e privado do sono: volta-se incessantemente, e a sujeição a uma mesma posição é-lhe insuportável. Quem, pois, quiser ser bem sucedido na oração e nela progredir, deve trabalhar todos os dias em reprimir as suas paixões, até que as haja extinguido. Será somente então que entrará nessa tranquilidade da alma que permite a reflexão sustentada e a união duradoura com Deus.
Examinemos se temos cumprido as três condições requeridas para sermos bem sucedidos na oração.
Reze com a Paróquia Sagrada Face de Tours, a paróquia das igrejas domésticas.
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Prof. Emílio Carlos
Pároco Leigo
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